Na foto, José Carlos Dias Lopes da Conceição, Ilana Lerner, Antônio Borges dos Reis e Rodrigo Pasqual
O Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), a mais tradicional entidade da área no estado, comemorou 99 anos de história no dia 6 de fevereiro. “O IEP é uma das instituições mais importantes da indústria da construção do Paraná, sempre mobilizado em torno das causas importantes da sociedade e atento às necessidades de seus associados. A AsBEA-PR tem a honra de ser parceira do IEP na representatividade do setor, e também oportunizando aos arquitetos inúmeros benefícios que o instituto oferece”, diz o arquiteto Francisco Almeida, presidente da AsBEA-PR.
Para marcar o aniversário, o IEP promoveu uma solenidade especial em seu Centro de Eventos, reunindo associados, autoridades e profissionais de Engenharia, Agronomia, Arquitetura e Geociências. O destaque da celebração foi a palestra “Jaime Lerner e a Visão Positiva das Cidades”, ministrada pela jornalista Ilana Lerner, filha do arquiteto e presidente do Instituto Jaime Lerner.
Os arquitetos Dora Peixoto e Ricardo Alberti, da diretoria da AsBEA–PR participaram do evento que, além da homenagem ao urbanista, também marcou o lançamento da nova identidade visual do IEP, com o tema “A Casa da Engenharia rumo aos 100 anos”, preparando a instituição para seu centenário em 2026. O presidente do IEP, Eng. Civil José Carlos Dias Lopes da Conceição, destacou que a entidade segue inovando e se adaptando às novas demandas tecnológicas e sociais, consolidando seu papel no desenvolvimento do Paraná.
Em seu discurso, ele ressaltou a trajetória do instituto e sua contribuição para o desenvolvimento técnico e urbano do estado. “Ao longo desses 99 anos, o IEP se tornou uma referência em desenvolvimento técnico-científico e cultural. Através de palestras, cursos, congressos, exposições e premiações, impulsionamos o conhecimento e fomentamos o progresso da engenharia e da arquitetura”, afirmou.
O presidente também lembrou da atuação do IEP na valorização profissional e na regulamentação das carreiras, sendo peça-chave na criação de leis e normas que hoje regem a engenharia e a arquitetura no Brasil. Atualmente, com mais de 4.150 associados, a entidade mantém sua missão de fortalecer a área por meio de parcerias com empresas e órgãos públicos.
“Estamos nos preparando para o centenário do IEP, mantendo nosso compromisso com a excelência, a inovação e o desenvolvimento. Que possamos continuar inspirando e transformando o futuro, honrando o legado de quem veio antes de nós e pavimentando o caminho para as próximas gerações”, concluiu.
Cidades para as pessoas
Em sua palestra, Ilana Lerner compartilhou a visão inovadora de seu pai sobre planejamento urbano e mobilidade, enfatizando sua crença de que as cidades são a solução, e não o problema. “Pouca gente sabe, mas antes de se tornar arquiteto, ele foi engenheiro. Para meu pai, os habitantes devem sentir a cidade como sua própria casa”, afirmou.
Ilana revelou que o Instituto Jaime Lerner preserva 130 cadernos com projetos, desenhos e conceitos desenvolvidos por ele ao longo da carreira. Nem todos foram executados, mas muitos ajudaram a transformar Curitiba e inspiraram outras cidades ao redor do mundo.
Entre seus princípios fundamentais estavam identidade, cultura e coexistência, incentivando os cidadãos a se sentirem parte do espaço urbano e a participarem ativamente da vida na cidade. Um dos maiores exemplos disso foi a criação do calçadão da Rua XV de Novembro, que transformou o centro de Curitiba em um espaço de convivência. “Meu pai dizia que ‘a cidade é o cenário do encontro’”, relembrou Ilana.
Outro marco foi o Teatro Paiol, um antigo paiol de pólvora convertido em teatro, reforçando a ideia de que os espaços urbanos devem integrar lazer, cultura e comércio. Na mesma linha, ele idealizou os parques e memoriais étnicos, reconhecendo a diversidade cultural da cidade e criando espaços que fortalecem sua identidade.
Ilana destacou ainda que Lerner via o desenho urbano como uma ferramenta para estimular o pensamento crítico e fortalecer a cidade. Seu planejamento para Curitiba foi estruturado ao longo de 50 anos para garantir uma visão integrada, sem segmentações rígidas, tornando-a mais orgânica e conectada.
Mobilidade e sustentabilidade
Na área de mobilidade urbana, Lerner foi o grande idealizador do Sistema Integrado de Transporte Coletivo de Curitiba, pioneiro no uso de canaletas exclusivas para ônibus. Ele defendia a ideia de “metronizar” o transporte de superfície, tornando-o tão eficiente quanto um metrô, mas com menor custo e maior flexibilidade. “Esse modelo influenciou mais de 190 cidades ao redor do mundo”, destacou Ilana.
Lerner também foi um dos primeiros a trazer a sustentabilidade para o planejamento urbano. O projeto Lixo que Não é Lixo implementou a separação de resíduos recicláveis e orgânicos, elevando a taxa de reciclagem da cidade para 75% do total coletado. Além disso, a campanha Família Folhas ajudou a conscientizar crianças sobre a importância da reciclagem.
Outro conceito defendido pelo urbanista foi a acupuntura urbana – pequenas intervenções estratégicas que geram grandes transformações na cidade. Entre os exemplos estão a Ópera de Arame, a Unilivre (atual Escola de Sustentabilidade) e o Museu Oscar Niemeyer (MON), espaços que foram revitalizados e se tornaram pontos de encontro para lazer, cultura e educação.
Um legado para o futuro
Para Jaime Lerner, a cidade ideal integra todas as suas funções – residência, trabalho, lazer e comércio –, evitando a segregação e tornando os espaços urbanos mais saudáveis, seguros e acolhedores.
“Meu pai foi um visionário, um modernista à frente do seu tempo. Ele transformou Curitiba em um modelo global de urbanismo sustentável e mobilidade inteligente”, afirmou Ilana.
Ela reforçou que seu legado transcende a política e a técnica, deixando um aprendizado valioso para futuras gerações: uma cidade bem planejada pode transformar vidas, e deve ser vivida, sentida e cuidada como uma extensão da nossa própria casa.